Ex
“A grande diferença entre seu ex e seu atual namorado é que o ex é para sempre.” Sem rigores, essa é a fala de um filme espanhol que vi há algum tempo e do qual me lembro quase nada.
Mas recordo da frase, porque a achei verdadeira. Uma vez ex, sempre ex -- mesmo se um dia houver uma recaída, mesmo se passarem 30, 40, 50 anos e outros relacionamentos se acumularem.
Portanto, se o ex é um personagem inevitável e permanente em nossas vidas, por que lidamos tão mal com eles?
Claro que existem paixões mal resolvidas, ou aquelas que causaram uma dor tamanha (por traição, falta de respeito, violência – física ou psicológica, etc.) que é mais saudável tirar a idéia daquele período de perto da gente.
Mas quando se viveu uma história bacana que terminou porque simplesmente houve um começo e um meio, e o fim foi conseqüência – e agora já se está em outra --, por que se esconder atrás da gôndola do supermercado ou atravessar a rua quando vê o outro na calçada? Por que ficar constrangido quando o nome dele/a é mencionado na roda?
Um dia aquele cara/garota foi seu(a) melhor amigo(a), confidente, companheiro(a). Estava ao seu lado na sua formatura e enquanto você aprendia a dirigir. Foi testemunha da compra do seu primeiro carro, da sua primeira viagem a Paris. Ficou te ouvindo chorar noites adentro quando seus pais se separaram e estourou champagne quando você conseguiu aquele empregão. Vocês riram, viajaram, passaram por perrengues juntos. Ele(a) era uma das cinco pessoas que você teria levado para um abrigo subterrâneo caso eclodisse a 3ª Guerra Mundial. Por que, me diga, fingir que aquele é apenas um rosto vagamente conhecido? Alguém que se deve evitar encontrar e conversar a todo custo?
Recentemente fui a um casamento. O ex da noiva era o DJ da festa. No alto da comemoração, saiu detrás das pick-ups e foi pular abraçado com os noivos, no meio da pista.
Também conheço um bebê cujo berço e todos os móveis Babylândia foram dados pelo antigo namorado da mãe. O pai da criança adorou o presente.
Há ainda o caso da atual mulher que empregou a primeira esposa do marido, viraram colegas de trabalho e amigas – tinham tanta coisa em comum!
Histórias assim são raras. Os envolvidos talvez tenham percebido que aquele ciúme que se esperava que eles sentissem, simplesmente não existia e não tinha por que existir.
Há quem alegue o tal “sentimento de posse” dos amores passados. Isso é normal, mas é como ciúme de irmão. A gente sente, sabe que é besteira, então, suprime. Afinal, não somos crianças mimadas. Ou somos?
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