Room in New York (1932)

Olhei através da janela e vi o fenecer do amor.
Era por volta das 18h e caminhava apressado pela 54th. Virei a esquina e avistei. Não havia equívoco. Era o fim, sob luz amarela e entre portas fechadas. Era o ocaso, quase palpável.
Foram as notas melancólicas que me fizeram diminuir o passo. Agudos, soltos, os Lás e Sis me envolveram. Espiei, na tentativa de juntar trilha sonora à imagem.
E a curiosidade me transformou em voyeur.
O tafetá vermelho do vestido contrastava com o branco intenso da pele. Lânguida, a moça martelava teclas. Displicente, mas não indiferente.
Era a tentativa derradeira de diálogo. Não acreditava mais nas palavras. Já havia desistido da valsa. Já havia perdido a festa.
A solidão a dois, porém, não permite melodia, harmonia, arranjos. E a única mensagem que atingia o outro vinha impressa. Em tinta preta sobre papel-jornal.
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1 Comments:
Algumas coisas você define secamente, com uma palavra. Brilhante.
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