Le Bal Masqué

Masquerade! Every face a different shade...

Wednesday, February 06, 2013

Vovó Alzira


Durante um bom período da minha infância, eu tive três avós. A mãe da minha mãe, a mãe do meu pai, e a vovó Alzira. 

A vovó Alzira era a dona da pré-escola que eu frequentava. Era uma escolinha especial, com uma área enorme, parecia um sítio. Havia muito verde, coelhinhos, galinhas d’angola e outros animais. Tinha um escorregador gigante de madeira no parquinho. Diante da minha estatura de criança, parecia ter quilômetros, mas talvez fossem só 50 metros. 

E tinha morros para subir e se sujar de terra e tinha as bananeiras para brincar de esconde-esconde. Essas bananeiras contam história! Mas fica para depois, porque agora vou falar sobre a Vovó Alzira. 

Ela não dava aulas, mas distribuía carinho. Abraçava a gente quando chegávamos no portão e nos beijava na hora de ir embora. Nos acalmava quando estávamos chorando e cuidava da gente quando ficávamos doentes. Seu QG era um lindo chalé de madeira, estilo suiço, com aqueles tetos inclinados que vão até perto do chão. Ficava ao lado da casa de bonecas. 



Vovó Alzira já era vovó quando eu tinha cinco anos. Na semana passada, pensei nela. Fiz mentalmente as contas de com quantos anos deveria estar: 90, imaginei.
Três dias depois, minha mãe me ligou. Vovó Alzira finalmente tinha ido se encontrar com as minhas vovós Nize e Ninha, onde quer que pessoas boas vão quando partem deste mundo. 

Tinha 94 anos e deixou, além de mim, outras centenas de netos.

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Monday, December 17, 2012

Canções de Natal



Chega esta época do ano, e eu morro de vontade de colocar um gorro e cachecol.  Delírio causado pelo trânsito enlouquecedor ou bebedeiras de fim de ano? Não, apenas uma vontade enorme de viajar para um lugar frio. Não tem jeito, para mim, Natal combina com o Hemisfério Norte, com boas camadas de neve, suficientes para se poder fazer um boneco bem gorducho no jardim.  Posso até ter sido influenciada pelos filmes, mas a família aconchegada à beira da lareira, comendo nozes e passas, onde viscos, azevinhos e pinheiros são naturais, tem muito mais cara de “Noite Feliz” do que ar-condicionado ligado e Papai Noel com a barba de molho no suor.

Claro que eu voltaria rapidinho, porque não existe Réveillon melhor do que no Brasil. Essa festa, sim, tem tudo a ver com a gente, temos clima perfeito para o champanhe e para virar a noite ao ar livre, o astral do pé na areia e das sete ondas, a linda tradição do branco...

Mas voltando ao Natal, existem tantas belas canções natalinas em inglês e não consigo pensar em nenhuma em português, tirando as constrangedoras versões. Deixando de lado o significado religioso da data, toda essa cultura natalina é isso, versão.  Em inglês, as músicas tradicionais desta época do ano têm até nome específico, são Christimas Carols. Para entrar no clima e se transportar mentalmente para um chalé com fumacinha saindo da chaminé, aí vai uma playlist natalina. Agora, se você não curte essas musiquinhas, dá uma olhada aqui, é tão legal quanto.
Let it Snow

Last Christmas, do Wham

Merry Christmas, (I Don't Want to Fight Tonight), dos Ramones
Have Yourself a Merry Little Christmas, pela Judy Garland

Santa Claus is Coming to Town

Sleigh Ride, pela Ella Fitzgerald

 

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Thursday, December 06, 2012

A lição de Ben Affleck



Ben Affleck tem os dentes mais bonitos que já vi. Quando o entrevistei, em 2009, era difícil parar de olhar para o alinhamento perfeito, o branco que não parecia artificial, mas também não continha sequer uma manchinha de café.
Na internet, vi depois, comenta-se que são facetas de porcelana. Provavelmente é verdade.
Lembrei disso porque ontem fui ao cinema ver Argo, filme dirigido, produzido e estrelado por ele. História bacana, com elementos de heroísmo, toques de sátira e excelente contextualização histórica – obra tanto do roteiro quanto da direção de arte.
Mas não quero falar do filme, muito menos resenhá-lo. Quem quiser saber sobre o que se trata encontrará no google. Isso se já não o assistiu, porque não estreou exatamente ontem.

É sobre Affleck que quero comentar. Figura interessante na fauna hollywoodiana. Se você não acha, provavelmente é porque ainda tem em mente Pearl Harbor e Jennifer Lopez.

 Vale olhar mais de perto. Quando conversamos, quase quatro anos atrás, Ben era um “astro em fuga”. Tinha imposto um hiato de três anos em seu trabalho como ator. A revista americana Esquire o classificava como um cara inteligente e talentoso preso em uma vida a la Britney Spears. "Queria mudar o caminho que a minha vida estava seguindo. Achei que seria inteligente dar um tempo, ficar longe de tudo. Psicológica e artisticamente foi bom para mim", me contou.

Nos anos 90, Ben foi uma promessa. Aos 25 anos, recebeu, junto com o amigo Matt Damon, o Oscar de roteiro por Gênio Indomável. Mas o sorriso certo e escolhas erradas o transformaram em um grande astro de produções caras e ruins (a dolorosa lista inclui Armageddon, Demolidor e Contato de Risco – considerado um dos piores filmes da história)

 Paralelamente, ele virou uma personalidade maior que seu trabalho. O romance com Jennifer Lopez, entre 2002 e 2004, foi um prato cheio para os tabloides, que apelidaram o casal de Bennifer. Hoje, casado com a atriz Jennifer Garner e pai de três filhos, ele e a família são alvos dos mais mirados pelos paparazzi de Los Angeles.

O caminho que o levou até Argo e ao possível Oscar que o acompanhará começou quando Affleck “tomou as rédeas para alinhar a pessoa que é com o trabalho que faz”, como ele disse recentemente à revista Time. É aí que chego ao próposito deste longo texto - longo demais para um blog.

Essa é a lição de Ben Affleck: a gente é melhor quando faz aquilo que está na nossa essência, aquilo do que nos orgulhamos. Parece óbvio, mas é preciso muito auto-conhecimento e coragem para chegar lá.

 

 


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Friday, October 19, 2012

Trampolim


Ela vai olhar. Tenho certeza que vai. Eu, parado aqui em cima, satisfeito como um alpinista que chegou ao topo do Everest, devo chamar a atenção. Estou na ponta da prancha, no ponto mais alto do trampolim. Nunca subi até aqui. Ela acha que me falta coragem, que sou um molenga, um frouxo. Ela nunca disse isso, claro, mas eu sei que pensa assim. Ela prefere o João. O João, sim, joga bola, faz judô, nada até borboleta. Eu tenho medo de mergulhar de cabeça. Sempre dou barrigada. A pele fica toda vermelha, ardendo. Uma vergonha.
O que vai fazer quando me ver saltando? Quando me assistir entrando como uma flecha na água? Vai gritar? Vai aplaudir? Tenho de pular, já está todo mundo me observando. Menos ela. Até o cara que nadava na raia dois parou para ver.A moça que toma sol do outro lado do deck também desligou o celular e está me encarando, com jeito de quem desacredita que eu irei mesmo me jogar. Bem, que me aguardem!
Vou esperar mais um pouco, só mais um segundo, ela virar o rosto nesta direção. Olha, olha, olha! Eu estou aqui! Droga. Está ocupada. Está conversando com a amiga, aquela loura de óculos gigantes. Detesto a loura de óculos gigantes. Ela parece uma abelha. Vou começar a zunir, será que desse modo ela vai olhar para mim como olha para a abelhuda?
É sempre assim. Está atarefada demais, distraída demais. A Teca diz que ela vive no mundo da lua. Estranho isso, ela nunca para para ver a lua. Nem as estrelas. Nem o desenho que faço das estrelas. E o machucado no meu joelho, então? Acha que ela reparou? Dói para caramba.
Seus olhos jamais estão disponíveis. Passam pelas águas agitadas da piscina, pelo colorido das toalhas e boias das outras crianças, pelo celular que tocou, mas sem focar. Apesar do sol forte do meio-dia, para ela tudo é neblina. Esse jeito esquisito começou mais ou menos na mesma época que o papai saiu de casa. E eu virei um borrão no seu campo de visão, embaçado pelas suas constantes lágrimas.
Mas descobri como mudar isso. Vou ser radical – me jogar do trampolim mais alto do clube - para ela me notar, ter orgulho de mim. E vou fazer isso já!
Peraí, estou vendo direito? A cabeça dela está virando? Vira, vira, olha, olha, por favor... Sim! Finalmente! Ela está me vendo! Olha, eu aqui, ó! Eu preciso tanto do seu olhar, mãe!



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Friday, January 22, 2010

I'd safe and warm if I was LA...ah tá!

Então eu estava em Los Angeles e teria um dia inteiro de folga. Isso nunca acontece. Essas viagens de trabalho são sempre vapt-vupt, e a única graça é o cinco estrelas onde normalmente fico hospedada.
Mas eu tinha um dia todo livre e me sentia na obrigação de aproveitar. Precisava conhecer algo novo. Estava cansada de ir ao mesmo shopping center próximo ao hotel.
Planejei tudo direitinho. LA não é uma cidade muito amiga de quem não está motorizado. Entrei no site do transporte público local e descobri que pegando um ônibus e uma linha de metrô, eu conseguiria chegar à entrada dos estúdios da Universal. De lá, um shuttle gratuito me levaria ao Universal City Walk, uma área a céu aberto com shoppings, restaurantes, cinemas, etc.
A previsão era de chuva, eu sabia. Os californianos celebram e temem a precipitação com a mesma intensidade. O Estado é seco e a umidade é sempre bem vinda, mas ninguém sabe como dirigir em pistas molhadas ou se comportar em um dia chuvoso. Portanto, achei que os telejornais e sites estavam fazendo muito barulho por pouco. Um impermeável seria o suficiente e nada me impediria de curtir o meu day off.
A chuva começou fraca quando eu ainda estava no ônibus, batendo papo com uma senhora judia que odiava advogados, apesar de ser casada com um (longa história). Quando sai do metrô, os pingos estavam bem mais constantes e fortes e a temperatura tinha caído. Perto de uma multidão parada na esquina do cruzamento, havia um vendedor de guarda-chuvas. Fui até lá e por cinco dólares comprei um. Enquanto tentava entender por que aquele grupo enorme de pessoas não atravessava a rua – haveria uma boca de lobo entupida e a sarjeta tinha virado um rio? – o camelô, enfático, me aconselhava a não abrir, de jeito nenhum, o guarda-chuvas a favor do vento. Eu sabia disso, é claro, tendo morado em Londres e tal. Se o vento estiver forte, as varetas entortam ao contrário e quebram. Ele insistiu mais uma vez, mas eu queria andar logo, tinha de cruzar duas faixas de pedestre, fazendo um L, para chegar ao ponto do shuttle, na entrada da Universal City.
Fui abrindo passagem entre a aglomeração que agora gritava “Coco! Coco!”e carregava cartazes com os dizeres “Team Coco”e “I’m with Coco”. Era uma manifestação, percebi, mas não tive muito tempo para tentar desvendar quem era Coco e a razão pela qual atraia duas dezenas de pessoas para uma passeata na chuva. Porque no momento que eu pisei no asfalto, uma lufada de vento quase me derrubou. Tive de jogar meu tronco para a frente para conseguir chegar do outro lado da calçada. Os prédios faziam um corredor de ar e o aguaceiro atingia na horizontal e com força de granizo quem cruzasse a rua. Eu inclinei o guarda-chuva na direção da tempestade, e, mesmo desse modo, a força do vento dobrava as varetas e rasgava o tecido. Tinha dificuldade em mantê-lo na mão, mas não podia soltá-lo. A ventania o carregaria para longe e poderia atingir alguém. Entrei em pânico achando que uma das varetas se soltaria e me atingiria no olho ou eu seria vencida pela força da natureza e arrastada. Tentei andar o mais rápido que podia e vi um grupo de turistas japoneses na mesma situação. Eles se abrigaram embaixo da marquise de um dos prédios, já do lado do ponto do shuttle.
Fui para lá também, e fiquei, incrédula, observando as palmeiras da rua se inclinarem uns 45 graus. Pedi um celular emprestado e liguei para uma amiga vir me resgatar de carro. Tive de voltar e esperá-la na esquina, no meio da manifestação. Encharcada, gelada até os ossos e rindo de nervoso, virei mais uma entre os fãs ardorosos de Coco, quem quer que ele fosse.

P.S. Descobri depois que Coco era Conan O’Brien, apresentador do lendário programa “The Tonight Show” (o mesmo que Johnny Carson comandou por 30 anos). Ele foi contra a mudança de horário do programa, que historicamente entrava no ar às 23h35 e foi substituído por Jay Leno, seu antecessor no talk show. Veja um video da passeata.

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Tuesday, November 24, 2009

A estante branca

Pela primeira vez na vida, eu tenho uma estante especialmente destinada aos meus livros, meus adorados livros. Ela é branca, com nichos assimétricos e ocupa lugar nobre da sala de estar.
É um móvel espaçoso, mas não o suficiente para caber todas as obras literárias que tenho em casa. Selecionei as que pretendo reler ou consultar, e aquelas com as quais tenho uma relação afetiva – seja pela história, pela dedicatória ou pelo momento em que entrou e fez parte da minha vida. Os outros volumes foram para um armário no quartinho da bagunça, mas isso não significa que foram negligenciados!
Arrumei os preferidos de acordo com os temas: contos, romances norte-americanos, literatura russa, autores latinos, vampiros, chick-lit, cinema, jornalismo, e assim vai. Já me encontrei diversas vezes parada diante da estante: olho, admiro, namoro. Endireito e entorto livros, decoro os espaços com pequenos objetos coloridos, estrategicamente posicionados entre os volumes.
Estou apaixonada e cheia de ciúmes da estante, assim como sou pelos livros. Um caso de metonímia, o continente pelo conteúdo.

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Wednesday, November 11, 2009

Where Were You When the Lights Went Out?

É o título de uma daquelas comédias inocentes e deliciosas estreladas por Doris Day. Sempre me lembro dela quando a cidade (o estado, o país) fica às escuras.
Adoro o final, quando nove meses após o blecaute, acontece um baby boom.

No apagão em 1999, eu estava na sala de aula da Letras e tive de praticamente adivinhar qual era o meu carro, estacionado no breu da cidade universitária. Dirigi de São Paulo a Santo André sem ver uma luz que não fossem os faróis dos carros.

Ontem eu estava na casa da minha mãe, era aniversário dela e tínhamos velas prontas, que não foram assopradas.

Ficamos lá, as quatro mulheres da família, conversando como há tempos não fazíamos. Sem interrupções, sem distrações, sob a luz fraca e trêmula. Como teria sido se vivêssemos 150 anos atrás.

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