Le Bal Masqué

Masquerade! Every face a different shade...

Tuesday, June 27, 2006

Pedro

Ele só me dá bola quando quer. E eu fico ali, macaqueando, implorando atenção.

Quando se tem um ano e três meses, há muito para ver, ouvir, mexer, quebrar, colocar na boca. Uma tia babona que só pensa em esmagá-lo entre os braços e beijá-lo nas bochechas definitivamente não é prioridade.
Mas quando acontece de Pedro pousar os olhos redondos, pretos – enormes para o seu rosto -- sobre mim, esqueço do fato de ter sido solenemente ignorada por horas e ganho o dia. Meu coração infla até quase não caber no tórax e repito pra mim mesma e para quem estiver do lado: ele é lindo, ele é engraçado, ele é esperto, ele é gênio!

E acabamos tendo, enfim, nossos momentos. Como aquela manhã na praia, debaixo do guarda-sol, Pedro sentado no meu colo, depois de ter “degustado” areia pela primeira vez. Observávamos o movimento, e ele, um tanto ensonado, encostou a cabeça no meu peito. Quando eu chegava à conclusão que, sim, seria capaz de ficar com ele ali daquele jeito para sempre, sua atenção foi desviada para algo colorido dentro do baldinho dos brinquedos. E no segundo seguinte, todo desperto, já se esparramava, tentando fugir do meu abraço. Meu tempo estava esgotado.

Ou ainda na última sexta-feira, quando fomos para a calçada ver as estrelas. Ele observava o céu muito entretido, sério como um pequeno astrônomo. Eu as apontava: “Olha mais uma lá!” Pedro me imitava, indicando com o dedo bem esticado o mesmo ponto luminoso para o qual eu lhe chamava a atenção. Enquanto isso, sua outra mãozinha segurava um chumaço dos meus cabelos e os dedos brincavam suavemente com os fios. Desmanchei.

Pedro me fez descobrir sons para os quais estava surda, como o canto dos passarinhos da rua. Imagens para as quais estava cega, como os caramujos no jardim. Sentimentos para as quais eu estava adormecida, como o amar sem esperar nada em troca.

Um dia, talvez, eu tenha um filho. Ou dois. Ou mais. Pedro já nem é mais o meu único sobrinho. Mas essa figurinha de olhos gigantes e sorriso maroto nunca perderá o posto de primeira criança na minha vida. Aquela que me fez lembrar que a felicidade às vezes não está nem mesmo nas pequenas coisas e sim, nos pequenos momentos.

5 Comments:

Blogger jardinière said...

que bonito, querida. guarde bem para quando ele já souber ler... e entender. certamente ele vai ficar todo feliz. beijo.

8:19 PM  
Anonymous Anonymous said...

Crianças são anjinhos que passam pelas nossas vidas. Pessoas sábias que podem nos ensinar muito.

2:05 AM  
Anonymous Anonymous said...

As palavras que vc escolheu são perfeitas para ilustrar o sorriso ENORME que vi no domingo a cada história do Pedro que vc contava. Um dia ele vai chorar lendo isso, tenho certeza.
bjs

4:20 PM  
Anonymous Anonymous said...

Lindo texto!

7:42 PM  
Blogger jardinière said...

querida
ontem pensei em vc o dia todo, mas o dia todo estive longe de casa - e do celular não dava.
eu tb vi que um email que te mandei anteontem não chegou.
está difícil me comunicar com vc, porque...
além do mais descobri que não sei onde está o papel que me serviu de agenda aí no brasil, com os tels de todo mundo... inclusive seu celular!!!!!
queria te ligar agora e não posso. buá.
então vai este recadinho por aqui.
beijos muitos, saudades. keka

3:52 PM  

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