Le Bal Masqué

Masquerade! Every face a different shade...

Friday, September 08, 2006

Era Uma Casa Muito Engraçada

O número 219 da Chamberlayne Road era o que os ingleses chamam de “suburban semi-detached house”. Apesar de idêntico a todos os outros sobrados da rua, sua fachada era a mais descuidada da vizinhança. A porta branca descascada e um velho Mini amarelo (o carro do Mr. Bean, sabe?), abandonado na garagem pelo antigo morador, ajudavam a compor a aparência mal-ajambrada do imóvel.
Éramos participantes de um Big Brother da vida real: nove moradores de três nacionalidades, todos na faixa dos 20 anos. Dividíamos o espaço, as contas, alegrias, conquistas, medos e frustrações daquela vida louca e passageira.
As brigas eram inúmeras: o council tax não pago, o computador monopolizado, a louça suja, os banhos longos. Mas as boas histórias também eram infinitas, para não falar das festas antológicas. A lendária Benetton Party reuniu mais de 30 países no nosso living room. Tinha inglês, brasileiro, italiano, francês, húngaro, tcheco, um time inteiro de rugby da Holanda e até Mercedes estacionada ao lado do velho Mini. Nunca se soube como os atletas e o carro foram parar em Kensal Rise (ou Willesden -- havia controvérsia quanto ao postcode e bairro).
Os domingos de inverno eram passados de pijama e com o aquecedor ao máximo.
Gastávamos o dia debaixo do duvet, lendo romances comprados na promoção 3 for 2 da Waterstone´s ou no “Salão da Márcia”, o quarto das meninas onde se fazia de escovas a depilação com cera quente. Algumas vezes, nos juntávamos todos na sala para ver DVD. Nos créditos iniciais, já começava a cisão: a turma que gostava de “comentar” o filme contra aqueles que exigiam silêncio.
Nas noites da semana, a reunião acontecia na cozinha, alguns chegando do trabalho, outros do pub, as meninas fumando os últimos cigarros do dia. A gente comia pizza de £1, biscoitos digestive (algo como a bolacha “Calipso”) e se embriagava de Foster´s (cerveja australiana barata). Depois se sentava na escada, trocando idéias sobre a cidade, nossos ideais, sonhos e planos.
Aquele sobrado foi testemunha de juras de amor, amizade e ódio. Aprendemos a tolerar, compartilhar, gostar do diferente, do novo, do improvável.


There are places I remember
All my life, though some have changed
Some forever not for better
Some have gone and some remain

All these places have their moments
With lovers and friends
I still can recall
Some are dead and some are living
In my life I've loved them all

Labels: ,

8 Comments:

Blogger Paulo C. said...

Lindo, Má... Seu texto traz toda a atmosfera de nostalgia que você sente. Chego a sentir também, mesmo nunca tendo estado lá. Agora, o final matou a pau!!!
Colocar a letra de "In My Life" depois desse texto, me fez água nos olhos.
Lembrei de uma versão, bem nostálgica, bem nesse clima, que apareceu na trilha de um lindo filme chamado I Am Sam, com o Sean Penn, a Michelle Pfeifer e a Dakota Fanning. A trilha toda são músicas dos Beatles cantadas em arranjos delicados e maravilhosos. Quem canta essa é um cara chamado Dave Matthews (assita no You Tube, at http://www.youtube.com/watch?v=Zw-TUO7A-HQ Acho que é como vocês cantariam essa música na escadaria do sobrado. Beijos.

5:45 PM  
Blogger F. said...

Alguns vão achar que você escreve memórias em Londres. Outros vão achar que narra o estilo de vida numa república de jovens. Mas quantos vão perceber que o tema real deste texto bárbaro é a essência da vida? Momentos especiais. São eles que dão significado à nossa existência. São a única riqueza que verdadeiramente nos pertence. Parabéns, moça. Bjs.

5:23 PM  
Blogger Nádia Pontes said...

Amiga, e eu que conheci esse sobrado... A nossa deliciosa macarronada naquele domingo foi inesquecível. O ônibus 119 que me levava até lá. Que saudade!
um grande beijo, Ná

9:51 AM  
Anonymous Anonymous said...

O 119 vai pra Kensal Rise?

Amiga, sabe que a ultima vez que eu fui para aquelas bandas foi justamente pra visitar voces, um pouco antes do Junior ir embora. Tambem tenho boas lembrancas da Chamberlayne Road. Principalmente quando eu morava no 22 e subia a rua a pe e congelando em pleno sabado a noite pra assistir DVD com voces - foi o inicio da Lisa's tour. Lembro tambem que conheci a Celina num desses dias e 5 minutos depois ja tava dando gargalhadas ouvindo ela contar a historia do Oli. E teve tambem um dia que eu peguei um DVD pra gente assistir, o Junior ia cozinhar, passei no indiano pra comprar Coca-Cola e esqueci o DVD la. Tive que descer a rua toda de volta no frio.

Bons tempos! Deu saudade de Kensal Rise agora. Vamos dar umas voltar por la quando voce voltar? So umas voltas, porque o nosso postcode vai ser N1, Angel!

1:29 PM  
Anonymous Anonymous said...

Assistimos "Chicago" com os amigos da Sharing (que me inclui) e uma vez cheguei lá chorando tanto, que as lágrimas quase congelaram durante o trajeto de ida da Wrentham Av até lá...

2:50 PM  
Anonymous Anonymous said...

Adorei o texto.... me fez lembrar tanta coisa boa... acho que temos que dar uma passadinha por lá novamente, mas definitivmente o futuro postcode´da Lisa´s tour tem que ser N1.... Beijão Marida

7:51 PM  
Anonymous Anonymous said...

Mas ah....
219 Chamberlayne... boas lembranças...

A Fê vendo OC, O Peter e a louça suja no guarda-roupas, A Iva passeando pela casa nos seus momentos pós banho, como veio ao mundo.. a Celina e suas pegadas no banheiro, A Marina... ah, a Marina... tantas conversas na cozinha, na escada, no quarto...
A Marina que já me acobertou enquanto eu dormia escondido debaixo do edredon da colega de quarto dela... A Marina que nos apresentou a Valentina!.... que saudades.

Isso sem falar dos malucos, Dênis e Flip, os meus glass colectors.
A Claudinha e o Pavel, que ela chamava de Pablo (???)... A Poola, que junto com a Fê, flertava com o Indiano da esquina, só pra conseguir cigarros mais baratos...
Teve o Ricardo, único dos 49 gaúchos que passaram pela casa que era chamado de "gaúcho"...

Além destes, as visitas.... mãe da Má, prima da Má (ah, a Déia...)... Pai da Poola (com a cachaça do padre), Irmão da Fê (que virou morador!!! o Elefriend!)...

E mais os dias que eu era o cozinheiro da galera, qdo o Baiano e a Kiki iam comer minha comida deliciosa... ou quando a Má me pedia pra fazer o frango dela, pq nem grelhar frango ela sabe...

tanta coisa.
Tanta coisa que da um livro.

Livro aliás que uma certa mascarada já nos prometeu.


Mil beijos e muuuitas saudades.

9:55 PM  
Anonymous Anonymous said...

eh isso mesmo junior.. que saudade de tudo isso. Menos a Deia (aiii, a Deia... grrr) hahahaha
Ainda vou ficar aqui matando a saudade que vou sentir depois. Serao mais 3 meses e depois so vao ficar as lembrancas, todas as historias engracadas que me faziam chorar e que agora me fazem sentir muita saudade.
Um beijo muuito grande amoure!!!

10:38 AM  

Post a Comment

<< Home

<