Le Bal Masqué

Masquerade! Every face a different shade...

Wednesday, August 23, 2006

Era vidro e se quebrou?

Aqui está ele diante de mim. Os mesmos óculos quadrados, os mesmos dedos calejados a tamborilar a mesa enquanto espera o café esfriar.
A velha mania de tomar café morno, quase frio.
E de comer carne sangrando.
E de fumar um Mallboro atrás do outro.
E de me abraçar quase esmagando.

É um reencontro. Mas não o primeiro. Há anos nos aproximamos e nos afastamos sistematicamente. Nos damos bem entre quatro paredes. E somos atropelados no primeiro cruzamento cada vez que saímos pra rua.
Será esta mais uma vã tentativa de amizade? Ou de algo mais?
Tateamos, incertos, em busca da resposta.

Eu o amei. Não do modo como ele gostaria de ter sido amado. Meu amor era livre, sem cobranças, planos ou promessas. Um amor fundado no momento.
E ele me amou. Profunda, desesperadamente. Quis casa, quis cria, quis certezas que eu não pude dar.
Esse homem que agora se senta empertigado na cadeira, contemplando seu café frio, atravessou de um continente a outro, de um hemisfério a outro, para passar um dia comigo. Me escreveu cartas de amor. Cuidou de mim.
Mas também me maltratou, me feriu.
E eu a ele.

Esse amor me marcou com a dor gostosa de uma mordida na bochecha. E com a dor ardida de um tapa na cara.

xxxx

Ainda me lembro da primeira vez que a vi. O que mais me chamou a atenção foi o seu olhar. Denotava inteligência e determinação. Ela parecia conhecer um pouco de tudo e tinha uma sensualidade discreta.
Hoje, estar diante desse mesmo olhar me causa uma sensação ambígua. Por um lado, a familiaridade. Por outro, a dúvida: "O que teria acontecido se..." , "Será que alguma coisa vai acontecer?".

Ela sempre foi um paradoxo ambulante. Tem horas que é o ser mais doce do universo. Depois vira uma "bitch" completa. Eu nunca soube se receberia tapas ou beijos. Ao mesmo tempo, isso era o que me atraia nela.
Incontrolável, volúvel, explosiva. Um vulcão em constante atividade que quando direciona a sua energia faz com que tudo tenha sentido.
Adorava quando, desarmada, ela babava enquanto dormia em meus braços. E gostava ainda mais dos seus dias ranzinzas, quando resmungava de manhã e reclamava da vida.

Culpo a diferença de timing.
Quando conheci e me apaixonei por essa mulher, já tinha vivido um mundo de coisas que ela ainda estava por experimentar.

É um tanto trágico, pra ser sincero.
Não é que a gente deu errado. Simplesmente, não demos certo. Existem 300.000 motivos diferentes para isso.
Nenhum deles forte o suficiente.

Labels: ,

10 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Ai Amiga... esse texto hj mexeu comigo... vc não imagina o quanto! diferença de timing é f... beijos

4:47 PM  
Blogger Paulo C. said...

Legal esse exercício de falar na voz dos dois personagens, né. Difícil ver a visão de um e de outro. Mas os desencontros... ai, caramba!!!!

5:12 PM  
Anonymous Anonymous said...

Meus Deus, M., que texto é esse??? Mil, acho que o meu preferido. É dificil, mas acho que escolhe este.

6:44 PM  
Anonymous Anonymous said...

palmas para M.

7:09 PM  
Blogger jardinière said...

Adorei tb! Curiosamente, estive escrevendo uma história a duas vozes. Quem sabe um dia termino. Tem fragmentos dela no Ikusi Babel, que é outro blog no qual publico, depois vá ver...
E, sim, a falta de timing é f...
Mas, por outro lado, que seja infinito enquanto dure, né? Beijos muitos.

10:17 PM  
Anonymous Anonymous said...

Entrou pros meus 5 preferidos (ainda vou fazer a lista. Sabe como é, estou lendo Alta Fidelidade).

2:32 AM  
Anonymous Anonymous said...

"Não é que a gente deu errado. Simplesmente, não demos certo."
Sábias palavras.
Timing, é a palvra certa para essas coisas. E se não deu certo é pq tinha que ser assim. Mas a vida sempre reserva outras coisas lá na frente. O importante é não parar, nem esperar demais.
Como disseram aqui, vai para a listinha dos favoritos, se é que isso é possível!

10:48 AM  
Blogger Andréa said...

Lindo, lindo. Timing é tudo, né? E amor sem ter sido doído não foi amor.

3:18 PM  
Blogger Pri Ramalho said...

Lindo, Má! E amei essa da dor gostosa como mordida na bochecha... Beijo, Pri

7:50 PM  
Anonymous Anonymous said...

Late at night while my sleep didn't arrive, I found myself reading The story, as I look back, I think we'll always wonder what could have been but wasn't.... we'll always have Paris, I guess is the phrase to use. Take good care my sweet child.

2:01 AM  

Post a Comment

<< Home

<