Le Bal Masqué

Masquerade! Every face a different shade...

Saturday, January 13, 2007

There Is A Light That Never Goes Out

Nós acordaríamos bem cedo na manhã seguinte – era dia da faxina --, fazia míseros 2º C lá fora e teríamos de encarar o torturante ônibus noturno na volta, mas não importava. Era segunda-feira e isso significava Trash Night na The End.
A Trash era a noite mais cool do club mais cool de Londres. Cada vez que a gente enfrentava o cansaço, vencia a tentação de ficar no conforto do aquecedor e do edredom e caminhava encapotada e maquiada até a estação de Queen´s Park rumo a Holborn, sentia arrepios de animação. Éramos jovens, estávamos na cidade onde tudo acontecia, e íamos pra um daqueles lugares que dão a sensação de que o mundo é nosso quintal – ou nossa pista de dança.
Batendo em ritmo e ruidosamente as solas das botas no concreto da calçada, chegávamos à ruela escura diante de um imóvel igualmente sombrio, exceto pela projeção luminosa no muro: TRASH.
Ainda não havia fila na porta. Brasileiras durangas na Inglaterra chegam antes das 23h na balada, assim, os preços da entrada e da cerveja ainda são pagáveis. Com o decorrer da noite, os valores subiam gradualmente e o nosso consumo alcoólico caía consideravelmente.
A The End fica num porão amplo e clean, decorado com luzes e projeções de fotos nas paredes. No fim da escadaria da entrada, se dá de cara com Paul McCartney de perfil, segurando um cigarro -- uma imagem P&B do início dos anos 60. Do lado direito fica o lounge e o bar, do esquerdo, a pista.
A gente chegava cedo, pegava uma Stella e ficava observando a galera. Eram os cortes de cabelo mais legais que eu já tinha visto. Eram as roupas mais bacanas que as lojas de Camden Town vendiam. Eram os meninos mais parecidos com os Strokes e as meninas mais descoladas do mundo. No fundo, era uma atmosfera melancólica, que se dissipava (ou se intensificava, dependendo da “mood”) ao som de Franz Ferdinand, Bloc Party, Smiths e David Bowie.
No dia 8, aconteceu a última Trash Night na The End. Depois de dez anos, o DJ Erol Alkan resolveu tocar outros projetos. Eu, tão longe, nem pude me jogar pela última vez ao som de “There Is A Light That Never Goes Out”. Mas pelo menos na minha memória, a Trash é uma luz que nunca se apagará.

Labels: , ,

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Acabou e eu nunca fui. Uma vez cheguei bem perto e nunca vou esquecer a cara da hostess bizarra q deixou a gente entrar, mas barrou uns amigos da Cris. Acabou que fomos todos embora e eu nunca mais voltei. Enfim, nao tem mais a Trash, mas tem outras noites bizarras te esperando, amiga. Beijos, saudade, Kiki

10:23 AM  
Anonymous Anonymous said...

Que grande tristeza eu senti quando soube que a Trash não existe mais.

Uma lenda, um dos meus lugares favoritos além de Candem Town. Motivo de inspiração pros meus portfólios e mudanças loucas nos cabelos.

Sinto muita saudade dessa época, amiga. Até porque as brasileiras durangas erámos vc e eu.

Muito bom vc fazer parte dessa minha lembrança da Trash, onde tivemos momentos genuinamente britânicos, comparável apenas ao reveillon na casa do Sam em Candem, quando aquela inglesa dicou dançando em cima da geladeira.

2:46 PM  
Blogger Andréa said...

Como eh bom relembrar, neh? E ai, como eh bom se jogar...

3:08 PM  

Post a Comment

<< Home

<