Le Bal Masqué

Masquerade! Every face a different shade...

Thursday, December 07, 2006

Lapa de Baixo

Quem não pega as linhas A ou B da CPTM nem costuma visitar a Editora Três provavelmente jamais tenha passado pela Lapa de Baixo, apelidada carinhosamente de “Bangladesh” pela galera da redação.
Bairro decadente de origem industrial, esse canto espremido entre a Barra Funda e o Piqueri, quase na marginal Tietê, fez parte da minha rotina por quase quatro anos.
As ruas ao redor da estação de trem têm nomes de engenheiros ingleses, como Fox, Harrison e Willian Speers --homenagem àqueles que construíram a São Paulo Railway, que ligou Santos a Jundiaí, via Lapa, a partir de 1867. Todos os dias que passei lá, amaldiçoei as lotações com buzinas engraçadinhas, o comércio informal que impede o fluxo de pedestres na calçada, as biroscas pé-sujo, e os mercadinhos sobrevoados por moscas.
Hoje, porém, lembro com nostalgia daquele tempo em que cruzava com meia-dúzia de vira-latas no caminho do estacionamento pro trabalho e sentia o cheiro de frango assado nas televisões de cachorro.
Outro dia fiquei sabendo que o Oásis (karaokê de dia, bordel à noite) fechou. Não foram poucas as manhãs em que ouvi uma voz aguda e desafinada entoar “Vou choraaaar, desculpe, mas eu vou choraaaaar...” ao microfone.
Sob as chaminés das antigas olarias da região, a fauna é composta de ambulantes barulhentos, trabalhadores que pulam o muro da estação para não pagar a passagem e prostitutas à porta dos hotéis baratos. Às sextas-feiras, as padocas e botecos espalham mesas de alumínio pela calçada e aumentam o som do radinho. Forró e cerveja rolam soltos – até os vira-latas participam.
Na Lapa de Baixo, há história a cada esquina, lendas que sobrevivem e uma doçaria que vende brigadeiros divinos.

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5 Comments:

Blogger Andréa said...

Que lindo, M., lindo! Super poetico e visual. Me transportei pra la e morri de saudade, mesmo sem nunca ter pisado ali. Ah, Brasil...

Valeu.

3:09 PM  
Blogger Paulo C. said...

O texto da Má tem mesmo esse dom de fazer a gente morrer de saudade dos lugares que ela descreve, mesmo nunca tendo estado lá. Leiam, por exemplo, "Era Uma Casa Muito Engraçada", publicado aqui, em 8 de setembro... Jurei, quando li, que tinha morado na tal casa...

7:47 PM  
Anonymous Anonymous said...

Concordo com todos vcs. É preciso muita sensibilidade para sentir a poesia em ambientes como esse. Parabéns, muito gostoso de ler!

7:41 PM  
Blogger Ericka ferraz said...

eu nasci e cresci na lapa de baixo,vc tem razão em muita coisa que diz,mas eu vivi numa epoca ,dos anos 80 que era maravilhosa,era contrastante ,tinha tudo isso que vc falou mas ao se aprofundar tinhamos o colegio guilherme kulhmann que era muito bom vinha estudar o pessoal de toda a periferia da região,e tinhamos as pessoas nas ruas a noite com suas cadeirinhas até tarde com toda a criançada sem nenhum aparente perigo estavamos protegidos de alguma forma ,tinha a igreja cristo jovem que organizava uma quermesse bem familiar,vivi até meus 17 anos lá e posso te dizer com certeza que foram os melhores anos de minha vida,valeu por lembrar desse paraiso de contrastes.erika ferraz

3:48 PM  
Blogger Unknown said...

Tenho familiares lá até hj, morei la 23 anos , nasci,cresci vivi na lapa de baixo, sempre me recordando das historias de meu faleico vo a 1 anos e alguns dias, ele lapeano , familia que trabalhou na estrada de ferro e era aluno da emei no tempo q tinha ate pscina e seu pai uma leiteria..a lapa no meu tempo era boa e no do meu vô era amor puro..hj infelizmente a vilinha ainda é boa, mas ali ja no seu proximo quarteirao so tem baderna,forro,e muita zueira que estraga e mancha o local..sou novo e tenho 26 anos mas abobino esta rebeldia e falta de respeito com o melhor ugar para se viver do mundo..abraços,

Marcos Marques

10:45 AM  

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