Le Bal Masqué

Masquerade! Every face a different shade...

Saturday, July 29, 2006

Conto das Manicures

Ela nos vê entrar pelo salão pela primeira vez, ainda meninas, e acompanha o eclodir da nossa vaidade e feminilidade.
Vibra quando chegamos mais magras, com novo corte de cabelo ou com cara de apaixonada. Capricha quando temos um encontro no sábado à noite. Capricha ainda mais quando não temos um encontro há muitos sábados à noite. Chora com as nossas separações e ri com as nossas revanches. Levanta a nossa moral.
Está lá para a gente no dia do aniversário, do casamento ou daquela festa divina que apareceu na última hora. E para muito mais.
Eu tenho horário marcado semanalmente com a Isaura. Converso mais com ela do que com muita amiga com quem não tenho o privilégio de uma hora por semana para papear. Ir à manicure vai além do que simplesmente fazer as unhas. É um ritual feminino, faz parte de ser mulher.
Entre alicates, palitinhos e esmaltes, fico sabendo tudo sobre o novo anti-rugas da Avon, dos preparativos do noivado da filha mais velha e do último milagre do padre Claudio.
Isaura é católica fervorosa, e eu, de quebra, ganho a proteção dos santos. Meu nome está escrito lá entre os pedidos em Aparecida do Norte, levado por ela. E tem graça para mim também no cordão de Santa Filomena.
Isaura me explica que um “homem muito rico” se apaixonou por Filomena. (No Google descubro que se tratava do imperador romano Dioclesiano). Ela tinha 13 anos, queria ser freira, e havia feito voto de castidade. Negou-se a casar. O imperador, então, mandou decapitá-la. Virou Santa Filomena, a protetora dos jovens. Cada novo nó no cordão significa uma súplica atendida.
Antigamente quem guerreava com as minhas cutículas era a Two (chamava-se Tânia, mas como havia mais uma no salão...). Essa era devota mesmo do candomblé e da balada. Sacudia a lixa no alto, enquanto contava, raivosa: na noite anterior, enciumada e bêbada, havia subido no capô do carro novo do namorado e rodopiado sobre o salto 15.
Mas Two tinha seu lado intelectual, era fã de Herman Hesse e dos beatniks. Trocávamos livros e discutíamos literatura. Só interrompíamos pra decidir se era dia de Renda ou Gabriela.
Manicure é um pouco terapeuta. Escuta os desabafos e, baseada na grande amostragem de histórias das clientes, dá conselhos.
Uma amiga ouviu da sua manicure a solução para a falta de namorado. “Faça como eu, coloca teu nome na lista de visitas do cadeião. Tá cheio de homem a fim de compromisso lá. E, olha, nunca fui tão feliz na cama -- ou no colchonete, no caso --, como sou com o Diogão”, revelou.
Bem, uma coisa é certa: seu homem nunca vai sumir. Ela sabe exatamente onde encontrá-lo.

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11 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Perfeito. É exatamente isso!

6:03 PM  
Blogger Paulo C. said...

A visão masculina da manicure.
A única vez em que, por brincadeira, permiti que me fizessem as unhas, com direito a alicate, lixa, base, esmalte e tudo o mais, me chamou a atenção o quanto esse procedimento é calmante. Tem o mesmo efeito de uma massagem nos pés, por exemplo. Lembro que fui ficando sonolento, calmo e quase dormi.
Talvez unhas ou ponta dos dedos sejam o trajeto de alguns meridianos yin, ainda não conhecidos.
Se não fosse caro fazer as unhas pra logo em seguida remover tudo, acho que seria uma boa terapia de relaxamento. Mas, ao contrário do que você disse, eu pediria uma manicure que não falasse nada, deixaria tudo à meia-luz e botaria um CD de música calma ou barulhinhos de água.

6:41 PM  
Blogger jardinière said...

Querida, eu sorri o tempo todo com a sua crônica. Gostei muito. Mas cheguei à conclusão de que não sou mais mulher - é que eu vou à manicure umas quatro vezes por ano, todas durante o mês que passo aí! E agora????

6:53 PM  
Anonymous Anonymous said...

M.
Que texto delicioso!
Parece-me que breve teremos um livro de crônicas novo na praça... Tomara!
Permite uma observação "de brincadeirinha" e um lembrete pra salvar a reputação de alguém, talvez?
A brincadeirinha é que a manicure da tua amiga não pode ter tanta certeza assim se vai encontrar com o namorado, toda hora as "ôtoridade" transferem a moçada de presídio, portanto...
Agora, no celular ela acha(hehehe).
Lembrete: ainda na talvez vã esperança de salvar a pele de Miss O´Hara, permita convidar-te pra ler minha possível patética defesa dela, no post anterior.
Tchau, bom domingo.
Ah, tal qual nos outro blogs, deixa compartilhar contigo, todas e todos o que estou ouvindo(seria legal se virasse prática, adoro dar dicas e receber): álbum "O Grande Encontro".

12:33 PM  
Anonymous Anonymous said...

marina, excelente texto!!! e é bem por aí mesmo! manicures são mais que terapeutas!
incluo aí tb as depiladoras!

bem, eu faço terapia, unhas e depilação... ainda bem que adoro falar, da minha vida então... nem se fala!!

beijos!

(eu sou a juliana do rô, aquela que fez a primeira comunhão contigo, lembra?? hehehe)

3:10 PM  
Blogger Pri Ramalho said...

Má, não sei de onde vc tirou (uns dias atrás) essa história de bloqueio literário. Mas de qq forma as mandingas funcionaram... Amei esse aqui!
Beijo, Pri

6:01 PM  
Anonymous Anonymous said...

Eu to com a Keka. Manicure so quando fui pro Brasil. Mas pelo menos eu aprendi a fazer minha unha sozinha. Ah, e nao tenho mais analista tambem. Sera que eh por isso que to ficando meio doidinha?

9:25 AM  
Anonymous Anonymous said...

Então...
Vejo a manicure para as mulheres como o "futebol de terça-feria" para os homens. É aquela hora, ou horas, em que tudo ao redor não interessa. Todos os problemas viram relatos, muitas vezes cômicos. É mais um desses momentos em que fujimos da realidade assustadora de nossas vidas, do frenesi do dia a dia, para termos uma hora de puro deleite e conversa jogada fora com os amigos. Muitos dos problemas ficam lá, ou nos restos de unha, ou nas gotas de suor.
Por isso, Ma, meu amor, como já descobristes desde o jardim de infância, nunca pergunte a um homem "a bola ou eu". Pense no inverso. " A manicure ou eu!" e entenderás.

Continuas escrevendo divinamente,
Morro de saudades das nossas conversas e juro que a qqr hora bato na tua porta.

Mil beijos.

6:55 PM  
Anonymous Anonymous said...

Bem, última mesmo e desesperada sim tentativa de defender Scarlett O`Hara: ela com certeza saberia prestigiar e até não viver sem uma manicure!
Desculpaí, agora I´m "...Gone With The Wind..."
(só pra compartilhar: ouvindo "Naquela Estação", com Adriana Calcanhoto).
Boa terça-feira pra todas e todos.

2:05 AM  
Anonymous Anonymous said...

simplesmente perfeito. Adorei o texto. Acho que todas as mulheres tem esta identificação com a manicure. É no salão que eu descubro as fofocas das novelas, quem está namorando com quem, onde tem liquidação, receitas caseiras para máscara facial, dentre milhares de coisas.
Parei de roer unha recentemente, se eu soubesse que me divertiria tanto no salão, teria parado antes (que vergonha!)

2:40 AM  
Anonymous Anonymous said...

O chato de ler um texto seu é que, quando acaba, eu penso que só vai ter outro daqui a quatro ou cinco dias =(

2:58 AM  

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