Day Off
Não esperaram o bonde do fim de semana.
Na quarta-feira mesmo, assim que o sol baixou, desceram o morro a pé.
O destino era a Fonte da Saudade, onde -- nunca saberiam – no passado se fabricou pólvora para um rei.
Mas naquela dia a pólvora não importava. Nem as granadas, o G3 e o AK-47.
Caminhavam em direção ao poente. Bola de futebol debaixo do braço, camisa aberta no peito. Viam o Dois Irmãos de um novo ângulo.
De “branco”, só queriam saber das areias da zona sul.
De “preto”, apenas o contorno da Pedra da Gávea.
Por uma tarde, o avião e o vapor esqueceram o barraco, a birosca, a boca.
E foram inocentes. Inocentes do Leblon.
PS. Esse texto surgiu de um desafio proposto em Casa da Lagoa . A partir de uma foto tirada pelo Ferdi, os leitores do blog foram convidados a contar uma história. Essa é a minha.
PS2: No século 19, na região da Lagoa Rodrigo de Freitas, foi construída uma fábrica de pólvora a mando de D. João 6º.
PS3. “Inocentes do Leblon” é um do poema do Drummond:
Os inocentes do Leblon
não viram o navio entrar.
Trouxe bailarinas?
trouxe imigrantes?
trouxe um grama de rádio?
Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram,
mas a areia é quente, e há um óleo suave
que eles passam nas costas, e esquecem.
Labels: dica de site
3 Comments:
Muito bom ver os blogs que costumo ler em completa interatividade. Confesso que, logo no início do seu texto, já lembrei da Casa da Lagoa. A referência no final me deu aquele prazer de quando identificamos a obra de um pintor muito antes de olhar a assinatura do autor do quadro.
Ei, M., adorei. Vou postar na Casa da Lagoa um link para a sua história. Bjs.
O texto tem cara de brisa que refrescaquando estamos mortos de calor. Lindo.
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