Le Bal Masqué

Masquerade! Every face a different shade...

Tuesday, April 24, 2007

Ritinha e Zelito

Quando se viu às 21h16 de um sábado assistindo novela com sua mãe no sofá, Ritinha percebeu que havia algo de muito, muito errado em sua vida.
Aos 27 anos, solteira, sem namorado havia um bom par de anos, ela mal recordava o que era andar de mãos dadas pela rua, passar um fim de semana romântico nas montanhas ou dividir a pipoca no cinema.
De repente, entre a cena da Regina Duarte chorando e a da Ana Paula Arósio rindo, Rita levantou-se num pulo e resolveu tomar uma providência: acharia companhia para aquela noite e para todas as próximas! Não ficaria mais um fim de semana mofando em casa, fazendo Sudoku ou lendo Danielle Steel. Nunca mais! E, acima de tudo, não saberia sequer o nome do Tony Ramos na próxima trama das oito.
Correu abrir a velha caderneta de telefones – sim, ela ainda mantinha uma agendinha com os números anotados à mão, tinha medo dessas tecnologias que dão acesso a tudo e, de uma hora pra outra, deixam sem acesso a nada.
Começou a reconhecer nomes de velhos amigos, antigas paixões, ex-namorados, contatos que foi perdendo com tempo. Resolveu se ater aos homens da sua vida, quem sabe um amor do passado não seria uma opção pro futuro?
Na letra A, encontrou Alfredo Orlando, o gato do 3º D que a fazia suspirar pelos corredores do liceu – pelo que se tem notícia, hoje é médico famoso... e gay notório.
Mais à frente, achou Ernesto Pedro, o bad boy do bairro, que, segundo a vizinha do 418, se tornou missionário evangélico em Rondônia.
Logo em seguida, veio Juan Pablo, o latin lover que atualmente faz fortuna com petróleo no Oriente Médio.
Perto do final, achou Ricardo Lúcio. Desse aí era melhor nem saber o paradeiro...
Estava quase fechando o caderninho quando viu o nome de Zelito. Demorou uns bons minutos para lembrar do garoto tímido que lhe mandava fitinhas com canções do Fábio Jr..
Ela, que esteve sempre ocupada com Alfredo Orlando, Ernesto Pedro, Juan Pablo ou Ricardo Lúcio, nunca havia escutado as gravações.
Tirou o telefone do gancho e discou.
Descobriu que Zelito não tinha se convertido à era do CD. Como ela, ainda preferia as cadernetas, as K7 e os namoros à moda antiga.

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7 Comments:

Blogger André Debevc said...

Mais um texto delicioso de ler e que toca a todos que se viram em algum sábado à noite em casa pensando em como era bom não fazer nada junto com alguém que um dia nos foi importante.
Muitas das boas surpresas da vida vem de onde menos esperamos, quando estamos olhando pra outra coisa. Saber olhar é uma arte. Ter coragem pra voltar atrás e descobrir alguma coisa que pode ter ficado no caminho também...

11:18 AM  
Blogger Don Rodrigone said...

adorei, Má! Bom saber que existem Ritinhas por esse mundão... hehehe
beijo!

12:53 PM  
Blogger Marcos Bonilha said...

Muito bom!
Mas é tão difícil achar Ritinhas e Zelitos por aí, e quando acham, não dão valor merecido, ficando, mais tarde, o remorso de não ter seguido em frente.
Parabéns, e obrigado pela ilustre visita ao Lua.
Beijos

5:08 PM  
Anonymous Anonymous said...

Demora a atualizar, mas quando atualiza...Muito fofo seu texto.
O nome do Tony Ramos na novela é Antenor, tá? rs

7:43 PM  
Anonymous Anonymous said...

Querida, desculpe comentar o comentário, mas o post do André foi muito lindo. Combinou perfeitamente com seu texto - delicioso!

7:49 PM  
Anonymous Anonymous said...

Homenagem ao Juan Pablo. É isso aí! Inesquecível até para a gente. hehe

1:43 PM  
Blogger Paulo C. said...

O conto é lindo, como sempre.
Mas essa moça, com 27 anos, já está com nostalgia do pouco passado que ela viveu, né? "...Correu abrir a velha caderneta de telefones..."; "tinha medo dessas tecnologias..."; "...Começou a reconhecer nomes de velhos amigos, antigas paixões... quem sabe um amor do passado..."
E no final, com apenas 27 anos, "não tinha se convertido à era do CD" e "preferia as cadernetas, as K7 e os namoros à moda antiga".
Sabe, às vezes eu sinto uma nostalgia até de um tempo que nem vivi, como do final do século XIX ou dos anos 20 , 30 ou 40, do século passado.
Por isso, eu entendo essa moça, tão jovem, querendo viver um passado que ela ainda nem tem.
Acho que a gente quer fugir dos tempos de hoje. estão muito pesados mesmo. Como a gente não conhece o futuro, dá uma vontade danada de fugir pro passado, como fez o Christopher Reeve no meloso, brega e bobinho (mas delicioso) "Em Algum Lugar do Passado".
Adorei mesmo!
Beijos!!!!

10:00 PM  

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