Le Bal Masqué

Masquerade! Every face a different shade...

Thursday, April 27, 2006

As Voltas

Fui revirar caixas empoeiradas, gavetas abarrotadas e arquivos de word em busca de velhos escritos meus. A idéia era revisitar, com distanciamento e olhar crítico, os pensamentos adolescentes -- e outros nem tão antigos assim -- a fim de, quem sabe, finalmente publicá-los aqui.
No fundo de um armário encontrei um disquete que continha as duas únicas poesias que escrevi na vida. Em meio a fotografias e diários, me deparei com um recorte de jornal e uma folha de sulfite dobrada.
Por incrível que pareça, os papéis estavam intactos. Já o disquete, aparentemente mais resistente, não teve a mesma sorte. Depois de quase dez anos sem visitar o computador, estava corrompido.
Tentei me conformar com o fato de os poucos versos que ousei rascunhar terem se perdido para todo o sempre, e me voltei para o pedaço tirado do Estadão. Era uma antiga coluna do Mauro Dias que um grande mestre/editor/amigo deixou propositalmente sobre minha mesa de trabalho em uma manhã de março de 1999. Coincidência ou premonição, a crônica, intitulada “Marina foi dar uma volta, um dia volta”, falava de uma jornalista chamada Marina que um dia se cansa da rotina de repórter e vai se aventurar em Londres.
O texto é muito longo para ser reproduzido inteiro aqui, mas aí vai um trecho:
“Ela está começando a segunda década de vida. Foi atingida, acho, pelo espírito de ave de arribação que pega sempre alguns num grupo de adolescentes e jovens. Marina já fez faculdade, tentou trabalhar, acabou achando tudo muito aborrecido, tratou de mudar de ares.”
Depois, me concentrei no outro papel, ainda mais antigo, mas apenas suavemente amarelado. Antes mesmo de desdobrá-lo, eu já o reconhecia. Era um poema. A folha, a letra de mão, a cor da caneta, as palavras me eram muito familiares. No passado, foram tantas vezes lidas, relidas, decoradas, choradas!
Não é de autoria de poeta famoso e nunca ocupou as páginas de um livro, mas na minha (muitíssimo parcial) opinião, sempre será a mais bela das poesias. Por um simples motivo: foi dedicada a mim.

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4 Comments:

Anonymous Anonymous said...

“Marina foi dar uma volta, um dia volta”... lembro-me disso como se fosse ontem, como se fosse hoje, como será sempre. Adoro ler suas histórias e reconhecer a realidade da ficção, e a ficção da realidade. Nada como reencontrar a Marina a cada linha que leio: a distância deixa de existir diante destas palavras que, ao serem lidas, me recorda o quanto estamos próximas. Adorei. Te (re)encontrei, e deu ainda mais saudades - essas coisas que todo mundo entende, mas ninguém sabe explicar. Nem Freud, esse meu vizinho.

Com carinho,

Léa.

4:52 AM  
Anonymous Anonymous said...

É interessante revirar papéis antigos. Tive duas fases de poesias e textos. Uma bem antiga, adolescente, e outra que apareceu há uns dois ou três anos. Um dia tomo coragem e te mostro. Fazemos trocas, topa?

PS.: Acho que Marina vai sempre querer IR, e sempre voltar. Essa sua capacidade de SER do mundo é inspiradora.

12:29 PM  
Anonymous Anonymous said...

Acho q escrevi duas ou três poesias na vida. Nunca gostei delas. Nunca chegaram a quem deveria chegar, acho.

1:51 PM  
Anonymous Anonymous said...

Great site loved it alot, will come back and visit again.
»

10:46 PM  

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