Veneza

Faz tempo, ouvi um ditado árabe que dizia: nunca volte a um lugar onde foi muito feliz.
Entendi na hora. Não adianta retornar. Nunca será igual. Melhor revisitar mentalmente o local, infinitas vezes se for, mas não macular aquela lembrança com uma nova impressão.
Seguindo tal sabedoria, eu não deveria, por exemplo, botar meus pés novamente no estádio do Morumbi, no Regent´s Park ou em Veneza.
Veneza! Com suas pontes, canais e gôndolas, La Serenissima está no inconsciente da humanidade. Minha idéia particular da cidade de Marco Polo, porém, está ligada a uma sensação de intensa felicidade. Foi lá, na Piazza San Marco, que vi Christophe pela primeira vez.
Cheguei numa sexta-feira ensolarada de inverno. A praça estava incrivelmente deserta e alguns confetes ainda restavam no chão, vestígios do carnaval recém-terminado. C. e eu ficamos deslumbradas e ríamos de tudo: do polaco bêbado, dos japoneses fotógrafos, dos gondoleiros que pareciam saídos do desfile da Armani. Achávamos graça no fato de estarmos num dos cantos mais românticos do mundo na companhia uma da outra e de não termos a menor noção para que direção ficava nosso hotel.
Horas mais tarde, do outro lado da cidade, tomávamos alguns spritz no bar. E foi lá, no Campo Santa Margherita, que vi Christophe pela segunda vez.
Mezzo italiano, demi français, ele estava em Veneza para visitar o amigo Aureliano, o Alfio, que trabalhava na biblioteca municipal. Christophe era lindo, inteligente e engraçadíssimo. Falava com as mãos e era um verdadeiro casanova.
Saímos os quatro de braços dados pela madrugada fria. Caminhávamos sem destino, perdidos pela cidade. Enquanto Alfio nos dava uma aula de história in loco, Christophe cantarolava “Strangers in the Night”.
Por dois dias, não nos largamos. Rodamos todas as pontes, ruelas e canais – dos mais conhecidos aos mais escondidos. O tempo passou vertiginosamente, como costuma acontecer nos sonhos. E domingo chegou, assim como o trem com destino a Padova. E foi lá, na estação Santa Lucia, que vi Christophe pela última vez.
Seria a última vez que veria Veneza também?
12 Comments:
O difícil é decidir que já se foi suficientemente feliz para que o lugar mereça o não-regresso. Alguns, talvez, sejam teimosamente esperançosos, o gulosos, de uma felicidade ainda maior. E aí voltam. E quem sabe se entristecem.
Eu acho que o Christophe era stronzo tambem!
Ah, esqueci. Com certeza nao foi a ultima vez que voce viu Veneza. A Lisa's tour qualquer hora passa por la.
Acho que devemos voltar sempre e sempre e sempre. De qualquer forma, o texto é lindo.
bjs
Eu já acho que o ditado árabe está correto. Afinal, anos de sabedoria !
Bj
Luiz
Acho que qdo o lugar é especial, vale muito a pena voltar. Recordações boas jamais são apagadas, muito menos substituídas...
As boas lembranças jamais se apagam da memória... mas nem sempre vale a pena resgatar essas lembranças voltando ao lugar onde fomos felizes... não existe "vale a pena ver de novo" quando se trata de felicidade... beijinhos
Vivi, concordo com vc. Lembranças boas não são apagadas. E Lígia, a volta ao lugar onde fomos felizes é para continuarmos sendo felizes de outras maneiras, por que não?! Ela não implica em querer viver o passado, apenas em relembrar sorrisos!
Má, voltei aqui hoje spo para ler este texto novamente. Again, é lindo!
Faça o que digo, não faça o que faço - concordo com o ditado, mas quero voltar a todos os lugares em que fui muito feliz. Burleigh Heads, Paúba, Jeffrey´s Bay, Prainha, Chapada(s), Garopaba, Melbourne, La Pedrera...
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