Le Bal Masqué

Masquerade! Every face a different shade...

Friday, January 22, 2010

I'd safe and warm if I was LA...ah tá!

Então eu estava em Los Angeles e teria um dia inteiro de folga. Isso nunca acontece. Essas viagens de trabalho são sempre vapt-vupt, e a única graça é o cinco estrelas onde normalmente fico hospedada.
Mas eu tinha um dia todo livre e me sentia na obrigação de aproveitar. Precisava conhecer algo novo. Estava cansada de ir ao mesmo shopping center próximo ao hotel.
Planejei tudo direitinho. LA não é uma cidade muito amiga de quem não está motorizado. Entrei no site do transporte público local e descobri que pegando um ônibus e uma linha de metrô, eu conseguiria chegar à entrada dos estúdios da Universal. De lá, um shuttle gratuito me levaria ao Universal City Walk, uma área a céu aberto com shoppings, restaurantes, cinemas, etc.
A previsão era de chuva, eu sabia. Os californianos celebram e temem a precipitação com a mesma intensidade. O Estado é seco e a umidade é sempre bem vinda, mas ninguém sabe como dirigir em pistas molhadas ou se comportar em um dia chuvoso. Portanto, achei que os telejornais e sites estavam fazendo muito barulho por pouco. Um impermeável seria o suficiente e nada me impediria de curtir o meu day off.
A chuva começou fraca quando eu ainda estava no ônibus, batendo papo com uma senhora judia que odiava advogados, apesar de ser casada com um (longa história). Quando sai do metrô, os pingos estavam bem mais constantes e fortes e a temperatura tinha caído. Perto de uma multidão parada na esquina do cruzamento, havia um vendedor de guarda-chuvas. Fui até lá e por cinco dólares comprei um. Enquanto tentava entender por que aquele grupo enorme de pessoas não atravessava a rua – haveria uma boca de lobo entupida e a sarjeta tinha virado um rio? – o camelô, enfático, me aconselhava a não abrir, de jeito nenhum, o guarda-chuvas a favor do vento. Eu sabia disso, é claro, tendo morado em Londres e tal. Se o vento estiver forte, as varetas entortam ao contrário e quebram. Ele insistiu mais uma vez, mas eu queria andar logo, tinha de cruzar duas faixas de pedestre, fazendo um L, para chegar ao ponto do shuttle, na entrada da Universal City.
Fui abrindo passagem entre a aglomeração que agora gritava “Coco! Coco!”e carregava cartazes com os dizeres “Team Coco”e “I’m with Coco”. Era uma manifestação, percebi, mas não tive muito tempo para tentar desvendar quem era Coco e a razão pela qual atraia duas dezenas de pessoas para uma passeata na chuva. Porque no momento que eu pisei no asfalto, uma lufada de vento quase me derrubou. Tive de jogar meu tronco para a frente para conseguir chegar do outro lado da calçada. Os prédios faziam um corredor de ar e o aguaceiro atingia na horizontal e com força de granizo quem cruzasse a rua. Eu inclinei o guarda-chuva na direção da tempestade, e, mesmo desse modo, a força do vento dobrava as varetas e rasgava o tecido. Tinha dificuldade em mantê-lo na mão, mas não podia soltá-lo. A ventania o carregaria para longe e poderia atingir alguém. Entrei em pânico achando que uma das varetas se soltaria e me atingiria no olho ou eu seria vencida pela força da natureza e arrastada. Tentei andar o mais rápido que podia e vi um grupo de turistas japoneses na mesma situação. Eles se abrigaram embaixo da marquise de um dos prédios, já do lado do ponto do shuttle.
Fui para lá também, e fiquei, incrédula, observando as palmeiras da rua se inclinarem uns 45 graus. Pedi um celular emprestado e liguei para uma amiga vir me resgatar de carro. Tive de voltar e esperá-la na esquina, no meio da manifestação. Encharcada, gelada até os ossos e rindo de nervoso, virei mais uma entre os fãs ardorosos de Coco, quem quer que ele fosse.

P.S. Descobri depois que Coco era Conan O’Brien, apresentador do lendário programa “The Tonight Show” (o mesmo que Johnny Carson comandou por 30 anos). Ele foi contra a mudança de horário do programa, que historicamente entrava no ar às 23h35 e foi substituído por Jay Leno, seu antecessor no talk show. Veja um video da passeata.

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