Le Bal Masqué

Masquerade! Every face a different shade...

Friday, January 26, 2007

Insônia

23h – Não acredito que estou indo deitar cedo. Meu dia amanhã vai render tanto! Vou colocar o celular pra despertar 7h30. Não, 7 horas!
Vou tomar um belo café da manhã...Salada de frutas! Isso mesmo, terei um dia saudável. Caminharei até a feira, comprarei morangos, ameixas, pêssegos frescos... e comerei salada de frutas no café!
Vou ter tempo de passar hidratante depois do banho e usar o secador! O pessoal na agência vai perguntar se eu fui ao cabeleireiro...hihihi.
Ai, ai, vai ser um dia ótimo.

23h15 – Hummm, mas eu não estou com sono...
Se eu ler um pouco com certeza estarei desmaiada depois de uma página e meia. Eu me conheço...

Meia-noite – O Nick Hornby é demais mesmo! Esse novo livro dele é fantástico, não consigo parar de rir e de ler!
Ah, não tem problema se eu terminar esse capítulo. Ainda conseguirei acordar e ir à feira, passar hidratante, secar o cabelo, etc...

1h da manhã – Acho que vou ter de abrir mão do hidratante...
E do secador.
Mas definitivamente vou à feira.
Não consigo dormir. A culpa é do livro. Eu deveria ter escolhido algo mais monótono pra ler.
Quem sabe se eu ligar a TV no canal Polishop? Mais chato, impossível.

2h15 da manhã: Polishop provou ser interessantíssimo. Sabia que existe uma blusa que diminui dois manequins e ainda melhora a postura? E que o grill do George Foreman também faz pizza? Incrível.

2h45 – Acho que consigo fazer a salada de frutas com duas bananas nanicas e aquela maçã pela metade que sobrou na fruteira.
Seria loucura mesmo ir à feira em pleno meio de semana...

3h30 – Desconfio que é insônia. Merda. Ai, que desespero. Tenho de levantar daqui quatro horas. Que tédio. Não agüento olhar pra capa do livro do Nick Hornby nem ouvir a voz do apresentador do Polishop.

4h -- Já sei, vou mudar o despertador para as 8h30.

4h30 – Melhor, para 8h45.

5h – Se eu ficar imóvel, bem quieta...se eu contar carneirinhos...quem sabe...

5h15 – zzzzzzzzzz

5h30 –Merda de caminhão do lixo. Ninguém merece esse barulho. Tô ferrada amanhã. Tô tão cansada, acho que....

5h31 – zzzzzzzzzz

8h45 – trimmm, trimmmm, trimmmmmmmm

8h46 – Ahn? zzzzzzzzzzz

10h15 -- Merda, merda, merda!

11h – "Alô. Sou eu. Tudo bem? Tive um imprevisto, o trânsito está um caos, avisa aí que eu tô chegando. Ah, e você pode fazer um favorzinho? Pede um expresso e um croissant na lanchonete? Não tomei café..."

Meio-dia – "Nossa, amiga, tá precisando dar uma passadinha no Ney, meu cabeleireiro, hein? Ele é óteeeemo!"

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Saturday, January 13, 2007

There Is A Light That Never Goes Out

Nós acordaríamos bem cedo na manhã seguinte – era dia da faxina --, fazia míseros 2º C lá fora e teríamos de encarar o torturante ônibus noturno na volta, mas não importava. Era segunda-feira e isso significava Trash Night na The End.
A Trash era a noite mais cool do club mais cool de Londres. Cada vez que a gente enfrentava o cansaço, vencia a tentação de ficar no conforto do aquecedor e do edredom e caminhava encapotada e maquiada até a estação de Queen´s Park rumo a Holborn, sentia arrepios de animação. Éramos jovens, estávamos na cidade onde tudo acontecia, e íamos pra um daqueles lugares que dão a sensação de que o mundo é nosso quintal – ou nossa pista de dança.
Batendo em ritmo e ruidosamente as solas das botas no concreto da calçada, chegávamos à ruela escura diante de um imóvel igualmente sombrio, exceto pela projeção luminosa no muro: TRASH.
Ainda não havia fila na porta. Brasileiras durangas na Inglaterra chegam antes das 23h na balada, assim, os preços da entrada e da cerveja ainda são pagáveis. Com o decorrer da noite, os valores subiam gradualmente e o nosso consumo alcoólico caía consideravelmente.
A The End fica num porão amplo e clean, decorado com luzes e projeções de fotos nas paredes. No fim da escadaria da entrada, se dá de cara com Paul McCartney de perfil, segurando um cigarro -- uma imagem P&B do início dos anos 60. Do lado direito fica o lounge e o bar, do esquerdo, a pista.
A gente chegava cedo, pegava uma Stella e ficava observando a galera. Eram os cortes de cabelo mais legais que eu já tinha visto. Eram as roupas mais bacanas que as lojas de Camden Town vendiam. Eram os meninos mais parecidos com os Strokes e as meninas mais descoladas do mundo. No fundo, era uma atmosfera melancólica, que se dissipava (ou se intensificava, dependendo da “mood”) ao som de Franz Ferdinand, Bloc Party, Smiths e David Bowie.
No dia 8, aconteceu a última Trash Night na The End. Depois de dez anos, o DJ Erol Alkan resolveu tocar outros projetos. Eu, tão longe, nem pude me jogar pela última vez ao som de “There Is A Light That Never Goes Out”. Mas pelo menos na minha memória, a Trash é uma luz que nunca se apagará.

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Thursday, January 04, 2007

“Aquí solo corre el viento...”





O Uruguai é um país poético.

A poesia está na sua atmosfera anos 70, no vento contínuo que varre a sua costa, nas onipresentes hortênsias.

Está na decadência charmosa da Ciudad Vieja, nos segundos de obscuridade em Cabo Polônio, na paisagem árida de Punta Del Diablo, no sol que derrete no mar seguido de uma noite estrelada em La Paloma.

O lirismo ainda toma para si as terrazas e bancos de La Pedrera, as paredes do restaurante Los Negros, as casas de vidro e o farol de José Ignácio (não à toa, esse é “el rincón del mundo” escolhido pelo escritor inglês Martin Amis).

Transita nos goles de Patricia e nas jarras de clericó, na beleza e simpatia dos chicos e chicas uruguaios, e no clima amistoso do “el boliche” (tradução local para “balada”).

E encontra perfeita tradução nas melodias de Jorge Drexler, nos versos de Mario Benedetti e nos sóis de Vilaró.

O cenário e os personagens dessa viagem me proporcionaram o melhor revéillon da minha vida. Que o ano siga no mesmo astral...para mim e para todos vocês.

Feliz año nuevo.

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