Marinheiro Pós-Moderno
Nicolae era comissário de bordo da American Airlines. Vivia pelas grandes metrópoles do mundo, flanando por hotéis, aeroportos e cabines de primeira classe. Falava meia dúzia de palavras em uma dúzia de idiomas e tinha um amor em cada porto.
Em Miami corria para os lençóis da estudante Maria. Em Roma freqüentava o estúdio e as curvas da fotógrafa Carmela. Em São Paulo passava madrugadas na banheira com a enfermeira Beatriz.
Ao contrário dos colegas pilotos, não lhe interessavam as mulheres da balada, conquistas fáceis e sem sedução, muito menos as prostitutas. Nicolae tinha namoradas. Participava de suas vidas, conhecia-lhes as histórias, os amigos, os nomes dos sobrinhos, o que gostavam de comer e o que lhes arrepiava de prazer.
Leonino vaidoso, malhava, fazia as unhas, usava creme hidratante. Era o que chamam hoje de um metrossexual.
Mal lembrava o jovem que havia deixado a pequena propriedade rural da família no Leste Europeu, logo após os turbulentos dias da queda do comunismo.
Haviam sido tempos difíceis aqueles. Empregos eram praticamente impossíveis. Para conseguir um, só pagando propina. Nicolae preferiu pagar uma passagem só de ida para a Itália.
Nas primeiras noites, dormia na estação de trem. Pegou pneumonia e quase foi preso. Foi seu charme e seu sorriso largo que lhe valeram um bico de bartender e uma americana cinco anos mais velha, que lhe ofereceu o corpo quente e o green card. E Nicolae foi fazer a América.
Quando seus cabelos negros começaram a rarear e as namoradas, também, Nicolae se aposentou e sumiu.
Há quem acredite que continua nos Estados Unidos, bebendo nos bares do Queens, em companhia de ex-aeromoças e velhos amigos gays.
Ouvi falar também que voltou para a Romênia e agora toca a plantação de uvas do pai.
Mas eu arrisco um palpite. Acho que Nicolae realizou o sonho que certa vez me confidenciou: comprou um apê no Rio de Janeiro e passeia todas as tardes no calçadão de Copa. Bermudão, óculos de aviador e o indefectível sorriso largo.
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