Pedro
Ele só me dá bola quando quer. E eu fico ali, macaqueando, implorando atenção.
Quando se tem um ano e três meses, há muito para ver, ouvir, mexer, quebrar, colocar na boca. Uma tia babona que só pensa em esmagá-lo entre os braços e beijá-lo nas bochechas definitivamente não é prioridade.
Mas quando acontece de Pedro pousar os olhos redondos, pretos – enormes para o seu rosto -- sobre mim, esqueço do fato de ter sido solenemente ignorada por horas e ganho o dia. Meu coração infla até quase não caber no tórax e repito pra mim mesma e para quem estiver do lado: ele é lindo, ele é engraçado, ele é esperto, ele é gênio!
E acabamos tendo, enfim, nossos momentos. Como aquela manhã na praia, debaixo do guarda-sol, Pedro sentado no meu colo, depois de ter “degustado” areia pela primeira vez. Observávamos o movimento, e ele, um tanto ensonado, encostou a cabeça no meu peito. Quando eu chegava à conclusão que, sim, seria capaz de ficar com ele ali daquele jeito para sempre, sua atenção foi desviada para algo colorido dentro do baldinho dos brinquedos. E no segundo seguinte, todo desperto, já se esparramava, tentando fugir do meu abraço. Meu tempo estava esgotado.
Ou ainda na última sexta-feira, quando fomos para a calçada ver as estrelas. Ele observava o céu muito entretido, sério como um pequeno astrônomo. Eu as apontava: “Olha mais uma lá!” Pedro me imitava, indicando com o dedo bem esticado o mesmo ponto luminoso para o qual eu lhe chamava a atenção. Enquanto isso, sua outra mãozinha segurava um chumaço dos meus cabelos e os dedos brincavam suavemente com os fios. Desmanchei.
Pedro me fez descobrir sons para os quais estava surda, como o canto dos passarinhos da rua. Imagens para as quais estava cega, como os caramujos no jardim. Sentimentos para as quais eu estava adormecida, como o amar sem esperar nada em troca.
Um dia, talvez, eu tenha um filho. Ou dois. Ou mais. Pedro já nem é mais o meu único sobrinho. Mas essa figurinha de olhos gigantes e sorriso maroto nunca perderá o posto de primeira criança na minha vida. Aquela que me fez lembrar que a felicidade às vezes não está nem mesmo nas pequenas coisas e sim, nos pequenos momentos.