Le Bal Masqué

Masquerade! Every face a different shade...

Thursday, September 28, 2006

“Longe só é um lugar aonde a gente nunca foi”

Zapeando, sabadão à noite, fui parar num canal que nem sabia que existia, TV Uniban.
E descobri "Alice", curta-metragem dirigido por Rafael Gomes, um dos criadores de outra película no formato ,“Tapa na Pantera”, famosa entre os fãs do YouTube.
"Alice" é um filme lindo, protagonizado pela Simone Spoladore e pelo fofo do Fernando Alves Pinto. Ouso dizer até que sua história e estética têm tudo a ver com o “Le Bal Masqué”.
O enredo fala de solidão, de desencontros, de amor e de perda. De como é difícil achar o outro – e se achar – no mundo, nos dias de hoje. Os personagens se desencontram pela metrópole enquanto “se ligam afobados e deixam confissões no gravador”.
Poético na medida certa, com trilha sonora comovente e uma fotografia caprichada de São Paulo (eu, que ando em fase de reafirmação dos meus votos de amor pela cidade, me emocionei).
Sem querer contar muito, comento um detalhe: a cena do aeroporto é fodaaaaa! Aeroportos são, por essência, lugares líricos. De despedidas, partidas, chegadas, reencontros... Quem nunca sentiu o coração dar piruetas ao se aproximar de um vidro de sala de embarque?
“Alice” é prova de que ainda tem coisa bacana sendo feita no cinema nacional. Quem tiver curiosidade pode conferir no Porta Curtas.

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Monday, September 25, 2006

Evoé, Chico!

Foto by João Wainer

Carioca não é um show qualquer. Afinal, foram seis anos sem Chico ao vivo.
Portanto, ontem fui ansiosa ao Tom Brasil, com sede de Chico. E lá estava ele, mais magro do que jamais o vi, com seu jeito elegante. Sem papinho, com os gestos contidos. E não precisava de mais nada, não. Chico é assim.
A única brincadeira, já perto do fim, foi uma mímica sutil. Sutil como Chico.
O compositor favoreceu o novo disco, as canções lado B, um bom punhado do Circo Místico. Mas também presenteou a platéia com “Eu te Amo”, “Quem Te Viu, Quem te Vê”, “João e Maria”.
Carioca foge do óbvio. Talvez porque Chico foge dos clichês que tanto gostam de associar a ele. Dizem que é “entendedor da alma feminina”. Em um dos seus DVDs, ele explica que, na verdade, nunca conseguiu compreender as mulheres e daí a obsessão pelos pensamentos e atitudes delas. Por isso presta tanta atenção.
E por observar tanto, deságua num outro lugar-comum alardeado por aí: de que Chico é tímido. Besteira. Ele gosta é de olhar, bem mais do que ser olhado. E ir pra cima do palco, pra debaixo do spotlight, é ser visto. Portanto, Chico na ribalta é como passagem de cometa, só acontece em tempos esparsos.
Chico, com sua erudição simples, conhecedor dos detalhes da vida, é indispensável. Só não gosta quem nunca prestou atenção às letras.
Quem mais poderia ser responsável por tantas e tão memoráveis poesias em forma de canções?
Quem mais é capaz de escrever uma letra inteira com versos terminados em proparoxítonas? Quem mais consegue usar as palavras “paralelepípedo” e “escafandristas” em música?
Segue uma das suas letras – nova e linda –, da trilha sonora do filme “A Máquina”:

Porque Era Ela, Porque Era Eu

Eu não sabia explicar nós dois

Ela mais eu, por que eu e ela

Não conhecia poemas

Nem muitas palavras belas

Mas ela foi me levando

Pela mão

Íamos tontos os dois assim ao léu

Ríamos, chorávamos sem razão

Hoje, lembrando-me dela

Me vendo nos olhos dela

Sei que o que tinha de ser se deu

Porque era ela

Porque era eu

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Friday, September 22, 2006

Day Off

Não esperaram o bonde do fim de semana.
Na quarta-feira mesmo, assim que o sol baixou, desceram o morro a pé.
O destino era a Fonte da Saudade, onde -- nunca saberiam – no passado se fabricou pólvora para um rei.
Mas naquela dia a pólvora não importava. Nem as granadas, o G3 e o AK-47.
Caminhavam em direção ao poente. Bola de futebol debaixo do braço, camisa aberta no peito. Viam o Dois Irmãos de um novo ângulo.
De “branco”, só queriam saber das areias da zona sul.
De “preto”, apenas o contorno da Pedra da Gávea.
Por uma tarde, o avião e o vapor esqueceram o barraco, a birosca, a boca.
E foram inocentes. Inocentes do Leblon.

PS. Esse texto surgiu de um desafio proposto em Casa da Lagoa . A partir de uma foto tirada pelo Ferdi, os leitores do blog foram convidados a contar uma história. Essa é a minha.

PS2: No século 19, na região da Lagoa Rodrigo de Freitas, foi construída uma fábrica de pólvora a mando de D. João 6º.

PS3. “Inocentes do Leblon” é um do poema do Drummond:

Os inocentes do Leblon
não viram o navio entrar.
Trouxe bailarinas?
trouxe imigrantes?
trouxe um grama de rádio?
Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram,
mas a areia é quente, e há um óleo suave
que eles passam nas costas, e esquecem.

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Wednesday, September 20, 2006

Sessão Pipoca

"Obrigado por Fumar": um dos filmes mais inteligentes dos últimos tempos. Quem está no mundo das relações públicas e/ou publicidade em algum momento da vida se sentiu um pouco Nick Naylor.






"O Maior Amor do Mundo": um dos bons filmes brasileiros dos últimos tempos. A safra nacional anda ruim, mas Cacá Diegues anda melhor.

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Thursday, September 14, 2006

Demasias


Eu sou como a Lucy. OK, não tão mandona e egoísta como a personagem do Peanuts, mas, certamente, sempre pronta a ouvir desabafos atrás da minha banquinha de conselhos (no caso, o computador ou o telefone). Minha geração tem tantas ou mais crises existenciais quanto a turminha criada por Charles Schulz. As queixas vão de relacionamentos superficiais ou monótonos demais até empregos prostituídos demais, passando por contas bancárias medíocres demais. Enfim, frustrações demais.
Na minha opinião, há outras demasias: pensamos demais, esperamos demais. Os sonhos são nebulosos demais e o futuro, incerto. Demais.
Claro que a amostragem – eu e meus amigos -- é pequena. Mas me surpreende a insatisfação agoniada que paira entre o copo de cerveja e a risada, entre o fim de semana de plantão e quarta-feira de folga.
Muitos sonhamos em nos mandar, ir embora, fugir pra terras distantes. Estamos falando aqui de gente pós-graduada, empregada, viajada. A vontade de mudar geograficamente para mudar profundamente.
Acho que sou uma boa conselheira. Gosto de escutar as histórias, tenho paciência e bom senso nas minhas ponderações. Mas como muitas das inquietudes que me são confidenciadas são minhas também, tudo que posso fazer é me solidarizar com os infernos.

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Friday, September 08, 2006

Era Uma Casa Muito Engraçada

O número 219 da Chamberlayne Road era o que os ingleses chamam de “suburban semi-detached house”. Apesar de idêntico a todos os outros sobrados da rua, sua fachada era a mais descuidada da vizinhança. A porta branca descascada e um velho Mini amarelo (o carro do Mr. Bean, sabe?), abandonado na garagem pelo antigo morador, ajudavam a compor a aparência mal-ajambrada do imóvel.
Éramos participantes de um Big Brother da vida real: nove moradores de três nacionalidades, todos na faixa dos 20 anos. Dividíamos o espaço, as contas, alegrias, conquistas, medos e frustrações daquela vida louca e passageira.
As brigas eram inúmeras: o council tax não pago, o computador monopolizado, a louça suja, os banhos longos. Mas as boas histórias também eram infinitas, para não falar das festas antológicas. A lendária Benetton Party reuniu mais de 30 países no nosso living room. Tinha inglês, brasileiro, italiano, francês, húngaro, tcheco, um time inteiro de rugby da Holanda e até Mercedes estacionada ao lado do velho Mini. Nunca se soube como os atletas e o carro foram parar em Kensal Rise (ou Willesden -- havia controvérsia quanto ao postcode e bairro).
Os domingos de inverno eram passados de pijama e com o aquecedor ao máximo.
Gastávamos o dia debaixo do duvet, lendo romances comprados na promoção 3 for 2 da Waterstone´s ou no “Salão da Márcia”, o quarto das meninas onde se fazia de escovas a depilação com cera quente. Algumas vezes, nos juntávamos todos na sala para ver DVD. Nos créditos iniciais, já começava a cisão: a turma que gostava de “comentar” o filme contra aqueles que exigiam silêncio.
Nas noites da semana, a reunião acontecia na cozinha, alguns chegando do trabalho, outros do pub, as meninas fumando os últimos cigarros do dia. A gente comia pizza de £1, biscoitos digestive (algo como a bolacha “Calipso”) e se embriagava de Foster´s (cerveja australiana barata). Depois se sentava na escada, trocando idéias sobre a cidade, nossos ideais, sonhos e planos.
Aquele sobrado foi testemunha de juras de amor, amizade e ódio. Aprendemos a tolerar, compartilhar, gostar do diferente, do novo, do improvável.


There are places I remember
All my life, though some have changed
Some forever not for better
Some have gone and some remain

All these places have their moments
With lovers and friends
I still can recall
Some are dead and some are living
In my life I've loved them all

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Sunday, September 03, 2006

Na Vitrola (ou No iPod -- se eu tivesse um)

I Bet You Look Good on the Dancefloor
(Artic Monkeys)

Stop making the eyes at me, I'll stop making the eyes at you
And what it is that surprises me, is that I don't really want you to
And your shoulders are frozen, cold as the night
Over you're an explosion, you’re dynamite
Your name isn't Rio, but I don't care for sand
Lighting the fuse might result in a bang

I bet that you look good on the dancefloor
I don't know if you’re looking for romance or...
I don't know what you’re looking for
I bet that you look good on the dancefloor
Dancing to electro-pop like a robot from 1984

I wish you'd stop ignoring me, because you're sending me to despair
Without a sound you’re calling me, and I don't think it's very fair
That your shoulders are frozen, cold as the night
Oh you’re an explosion, you’re dynamite
Your name isn't Rio, but I don't care for sand
Lighting the fuse might result in a bang

Oh there isn't no love no, Montague’s or Capulets
just banging tunes in DJ sets and
Dirty dancefloors and dreams of naughtiness

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