Le Bal Masqué

Masquerade! Every face a different shade...

Thursday, August 23, 2007

O Conto *

Por Jardiniére, Don Rodrigone, Paulo de Tarso, Ligia, Viviane, Ferdi, Marcos Bonilha, Andréa N., Tici, Pri, Anônimo, Kiki, Sall, Mari Veltri, Danielle Chevy, Rodrigo Borges e M.


Do alto do arranha-céu, sentado na laje, Raimundo via formiguinhas. Pontos escuros, na maioria; aqui e ali se adivinhavam detalhes. Detalhes que caminhavam e engalfinhavam-se freneticamente numa passeata hipotética.
Era o seu momento preferido do dia, depois do almoço. Pensava que aquilo era muito mais interessante que sua marmita... Às vezes, hipnotizado, até esquecia de comer a gororoba fria.
Naquele dia em especial estava sem fome. Finalmente a veria. O primeiro reencontro, desde que trocara o Cariri pela metrópole. Jurema levava seus seis filhos, que não via desde... parou pra fazer as contas: "2001", pensou admirado. O último nem vira nascer; nem conhecia... Sentiu as lágrimas. Felicidade, pelo reencontro; angústia, pela esperança que ainda traziam. O que diria à Jurema, quando ela visse a Roseclei?
Roseclei, a mulata que lhe abrira os braços e lhe dera calor na metrópole fria.
A esposa nunca entenderia, concluiu, e fitou, entristecido, a avenida lá embaixo. Tomou fôlego. Despencou da laje. Encontrou às formiguinhas da avenida.
Quando Jurema e suas crias chegaram na rodoviária, perceberam, depois de duas horas esperando, que Raimundo não viria.
Enquanto isso, do outro lado da cidade, a equipe médica tentava reanimar o corpo estendido no chão. As gotas da chuva lavavam o vermelho que tingira o asfalto e filetes rubros alcançaram a foto amarrotada na mão inerte.
Do canto do olho esquerdo da Jurema real desce a primeira lágrima, na mão do Raimundo mortal o rosto imortalizado de Jurema vai sendo acariciado pelas formigas sobreviventes.
Raimundo acordou assustado. Sabia que não deveria exagerar no almoço. Tinha que ir à rodoviária. Tudo não havia passado de um pesadelo. Bestagem, ainda mais agora que teria Jurema mais Roseclei. Então desceu voando pelas escadas e chegou esbaforido na calçada. No salão da esquina, Roseclei fazia as unhas.
- Nega, tô indo desenrolar aquele angu de que falei - avisou.
- Safado, importou a cururu da Paraíba - comentou Rosiclei com a colega.
O trânsito estava infernal. Teve medo de que Jurema fosse embora com as crianças. Pela janela da lotação cismava, absorto: que vida teria com as duas!!! Riu descaradamente...
Quando chegou na rodoviária, surpresa: havia mais um moleque... Nos braços de Jurema, a criança lançou-lhe um sorriso banguela.
- Diacho de moleque é esse Jurema?
– É do Wellington.
Ele vinha atrás. E ela riu, descaradamente.

* por enquanto, sem título.

Tuesday, August 21, 2007

Caros,

Quero agradecer e parabenizar os que estão participando do jogo abaixo. Nosso conto a "n" mãos está ficando muito bacana. Interessante perceber como ninguém tem domínio da história; até parece a vida, não é?
Um aviso a todos: o conto deve ser terminado na quinta-feira, quando se completará 1 semana de jogo. Portanto, a primeira pessoa que for atualizá-lo nesse dia deverá escrever um desfecho para a história. Se não conseguir fazê-lo em 10 palavras, pode fazê-lo em uma frase com quantidade livre de palavras.
Lanço aqui também a oportunidade dos participantes sugerirem títulos para o conto. Depois, faremos uma votação.
Por fim, peço que até quinta-feira todos respeitem as regras, lembrem-se que devemos escrever no máximo 10 palavras por vez.

Thursday, August 16, 2007

Ao jogo, pois!

Regras (baseadas nas originais postadas em O Jardim das Delícias):

1. O conto será escrito na janela de comentários desse post.

2. Cada novo adendo ao conto se fará com copy-paste do que já foi escrito até então, mais a adição de um novo fragmento.

3. Cada participante poderá escrever de 5 a 10 palavras que mantenham uma relação lógica com o precedente.

4. Os participantes não deverão inserir nada em outra parte do conto, só ao final da última frase.

5. Não se deve modificar o escrito pelos demais.

6. Não se deverá participar duas ou mais vezes consecutivas. Há que esperar pelo menos uma participação alheia antes de voltar ao jogo. No entanto pode-se participar quantas vezes se deseje.

7. É permitido usar pontuação (sem que conte como palavra) e terminar/começar frases em qualquer momento.

Nosso conto coletivo começa assim:

Do alto do arranha-céu, sentado na laje, Raimundo via formiguinhas.

Tuesday, August 14, 2007

Conto Coletivo

Minha amiga Jardiniére certa vez propôs um jogo em seu blog, e eu resolvi agora repetir a idéia, que deu muito certo, aqui no Le Bal.
Vamos todos escrever um conto coletivo. Cada um contribui com um trecho, e veremos no que é que dá. Quanto mais gente participar, melhor. No próximo post, publico as regras e dou o tiro de partida. Que tal?

Monday, August 13, 2007

Cícero ou Prático

- Casar?
- Sim, casar.
- Eu nem sabia que você já estava com alguém.
- Pois é, faz alguns meses...
- Você tá apaixonada?
- Ahn?
- Por que, então?
- Porque com ele eu construo com tijolos. Com você, a vida era de palha.

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Thursday, August 09, 2007

As Seis Velhinhas

Elas são todas baixotas e gordinhas. Em seus maiôs antiquados e toucas de helanca, entram na água pela escadinha, matraqueando sem parar.
Enrolam-se no macarrão, afundam bóias, projetam pranchinhas no ar, mas não deixam de tagarelar.
Uma traz a neta, outra, uma receita de bolo formigueiro que cai no chão e ensopa assim que ela adentra o vestiário.
Lamentações podem ser ouvidas até no banheiro masculino.
Todas, ao mesmo tempo, tentam salvar o precioso papel, mas quem alcança primeiro a folha quase desfeita sou eu.
Destôo do grupo uniforme que compõem. Algumas não demonstram nenhum interesse na intrusa de vestimenta mais “ousada” e algumas décadas mais nova. Mas sempre tem uma ou outra que me sorri e até puxa papo sobre o tempo.
As seis velhinhas são minhas colegas de hidroginástica. A idéia era fazer um mês de aula, desenferrujar, e depois passar para a natação. Mas tenho a impressão que vou dividir a piscina com as senhorinhas por um bom tempo. Palpite baseado na tremenda dor nas panturrilhas que sinto todo dia seguinte ao exercício.

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Tuesday, August 07, 2007

Chavinha Emperrada

Citei abaixo a minha dificuldade de escrever nesse espaço e ainda busco razão para isso.
Primeiro, foram a falta de tempo e a adaptação à vida de free-lancer. Nada mais justificável.
Mas quando a maré baixou, as ondas de idéias voltaram tímidas e bateram num Documento1 branquinho, branquinho, e viraram espuma.
Cheguei a culpar a felicidade – alguém já deve ter dito por aí que não existe criação sem dor. Se não, eu digo: o escritor é um sofredor por natureza.
E eu estou felizinha, tranquilinha. Desembarquei da montanha-russa de emoções. Não ando mais nem em roda-gigante.
Mas, no final, ainda penso que a melhor é a velha explicação de que existe uma chavinha no cérebro. Uma ferramenta que precisa ser virada para que se guarde num compartimento bem isolado as questões práticas do dia-a-dia, as preocupações e as necessidades e se possa soltar a imaginação, viajar, sonhar, criar.
E minha chavinha deu uma daquelas emperradas.
Tento todos os artifícios que conheço para azeitá-la. Ando lendo mais. Tenho me forçado a escrever, mesmo que bobagens sem nexo. Tenho pedido que me proponham temas.
Mas aflição de não conseguir trava ainda mais essa engenhoca.

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Thursday, August 02, 2007

Finais felizes

Na minha dificuldade de desenvolver temas para esse blog, o amigo André (Crônicas de Guardanapo) me propôs um assunto: a necessidade de finais felizes.

Nem sempre gosto das conclusões venturosas, previsíveis e inverossímeis. Meus desenlaces preferidos, em geral, não explicitam a redenção, a catarse, o “felizes para sempre”. Aqueles que somente sugerem um caminho novo -- diferente do esperado -- me comovem muito mais.
Mas sempre existem momentos em que queremos uma “confort story.” Por isso, Cinderela e Patinho Feio ganham infinitas caras, cenários e roupagens há décadas e invariavelmente fazem sucesso com a massa. Todo mundo sabe o final (feliz), mas e daí? Um enredo desses acompanhado de uma caneca de chocolate quente no inverno é “chicken soup for the soul”. Tem hora que tudo que queremos é ver a madrasta se dar mal no final, o príncipe beijar a princesa, o bandido ser preso, o monstro ser morto.
Qualquer estudioso da psique humana explica a nossa necessidade de finais felizes. Os filmes da chamada Fábrica de Sonhos nos passam a sensação de que o mundo pode ser justo, a lei e a ordem podem ser restabelecidas, que o casamento é mesmo o ápice da felicidade, que vilões se dão mal e mocinhos nunca morrem.
E diante das telas, nos enchemos de esperança.

Mas fica a pergunta: e na vida real, o que é um final feliz? Morrer em paz?

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